Papel de pão! Pedagógico! Lembranças de tempos idos!
Provavelmente se algum jovem ouvir as palavras bengala e filão, poderão não ter as mesmas imagens que nós temos delas. A língua portuguesa é linda e dinâmica!
Quando éramos crianças pão era vendido ou por bengala ou por filão. Não havia pãozinho individual como hoje.
Vovô mandava comprar um filão (que era enorme) e nós o comíamos o dia inteiro, sendo o bico dele, disputado por todos.
O filão vinha embrulhado num papel finíssimo, que o padeiro embrulhava com maestria, dando uma volta no ar e enrolando as pontas do papel. Não havia saquinhos nem sacolas.
Papel de pão não faltava nas casas. Os meninos faziam com ele capuchetas (Pipas que empinavam) e nós em casa, os utilizávamos de forma pedagógica.
Explico: vovó passava a ferro os papéis para eliminar os amassados das pontas e os guardava. Numa época de vacas esquálidas, magérrimas, eles eram o material disponível para estudo e rascunho.
Quando tinha provas no ginásio, os papéis eram meus companheiros nos exercícios de matemática e nas avaliações que eu preparava para verificar como estava meu conhecimento nas disciplinas.
A matemática era meu alvo favorito. Pegava a matéria da prova e fazia exercícios no papel de pão. O método era assim: acertou o exercício, fazia três vezes para ter certeza de que estava bem assimilado. Errou, fazia até acertar e depois de ter acertado fazia cinco vezes o mesmo. Fiquei craque!
A pilha de papéis de pão preenchidos com cálculos era minha segurança, meu passaporte para as provas. Olhava para ela com respeito e alegria. Era meu talismã.
Hoje vejo a turma que deseja ver cair do céu o conhecimento. Acham que sabem tudo e se não sabem, acham que vão saber sem muito esforço. São a geração do achismo e da exacerbada autoconfiança. Acham que podem tudo.
Lidar com esses meninos não é fácil, porque os tempos são bem outros.
Nasceram em berço de ouro com as vacas gordas. Belos cadernos com capas a escolher e largados ao final do ano com muitas e muitas páginas ainda!
A turma do século passado, que já passou pelo Cabo da Boa Esperança, pode não falar o que a turminha quer ouvir, mas sabe valorizar o que tem, porque viveu e sentiu na pele quão difícil foi chegar aos objetivos.
Nossa meninada também vai atingir suas metas e concretizar sonhos, mas não se esqueçam: suor, muito suor sempre para que não haja lágrimas.
Sonia Regina P. G. Pinheiro