Paciência e tolerância, coisa de japonês?
Tenho profunda admiração pelo povo japonês. Sentimento que vem da infância, lá na Vila Mariana brincando com as meninas filhas de japoneses que tinham uma fábrica de bonés perto de casa. Infância feliz!
Depois, mais tarde fui observando esse povo no comportamento sério e fechado, mas nobre e batalhador. Gente valiosa!
Conheci o senhor Tanaka, que não tinha mais do que duas calças e as camisas eram ralas de tanta lavagem, por onde se viam as veias do peito. Era agricultor em Parelheiros. Sem quase nenhuma cultura de livros, só de vida, criou os quatro filhos para o estudo. Dois médicos, um engenheiro e uma arquiteta. Todos aprovados na FUVEST, formados por ótimas faculdades públicas. Investimento no estudo, incentivado e pago com o trabalho duro.
Além da fé no progresso de vida que todos devemos almejar, o que me motiva a gostar tanto desse povo, além da educação que demonstram em tantos gestos é a capacidade de tolerância e paciência que têm.
Nas minhas pescarias com papai na Guarapiranga e na Billings, nos deparávamos com os pescadores japoneses, inertes na beira da represa. Escolhiam um lugar, atiravam quirera na água e ficavam lá à espera dos peixes.
Nós, os impacientes, ficávamos mudando de lugar se em meia hora não sentíssemos nenhuma beliscada. Era um tal de levar tralha para lá e para cá, mas os japoneses ficavam impassíveis, às vezes durante horas.
Ao final do dia, recolhíamos nosso mirrado puçá com meia dúzia de peixinhos sem-vergonhas e dávamos de cara com a japonesada vergada ao peso da colheita: peixes e peixes. Cada um enorme que dava gosto de ver e vontade de pedir também!
Penso sempre nesse povo e penso também na paciência e na tolerância que devemos cultivar no nosso dia a dia. E como!
Pena que isso não podemos ensinar nas escolas. Talvez apenas recomendar aos pequenos.
São tantas situações de estresse pelas quais passamos, que aquelas virtudes nos serviriam de anteparo a fim de que pudéssemos viver uma vida com um pouco mais de qualidade.
Difícil, muito difícil ser tolerante e paciente em face do que estamos vivendo atualmente: uma crise. Uma crise de moral e de valores. Incontestável!
Diante dessa constatação, volto meu olhar para a escola, nossa querida fábrica de sonhos!
Precisamos trabalhar bastante para que a moçada se desenvolva bem e seja um povo que futuramente possa exercer seus conhecimentos em busca de progresso com paciência e tolerância, mas sobretudo com clareza de seu papel no mundo e na sociedade.
Drª Sonia Regina P. G. Pinheiro